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Visualização de Dados e desigualdade social

por Fábio Vianna, CEO & Founder Viewsion – Visualização de Informação

 

Deparei-me esta com uma reportagem do Estadão do ano passado, tratando de desigualdade social.

Em resumo a desigualdade social, medida por um indicador chamado “índice de gini” mostrou uma tendência de queda desde 1960.

Segundo a reportagem, o indicador teve uma “queda espetacular” desde 2001, e o ponto negativo é que, mesmo com esta melhora, estamos entre os 12 países mais desiguais do mundo.

Fui atrás do estudo original, que você pode acompanhar aqui. Não achei os dados de 2013, mas minha intenção não é a de analisar a informação, o que o Estadão e a FGV já o fizerem muito bem, e sim demonstrar que podemos deixar a informação mais concisa apresentando-a de uma forma mais visual.

O trabalho é extenso, e por isso, vou me ater apenas à principal informação: a queda da desigualdade de 2001 para cá.

Na página 11 do referido relatório vemos uma mensagem que “lê” a informação:

“O Gini do Brasil cai de 0,596 em 2001 para 0,519 em janeiro de 2012, cerca de 3,3% abaixo do piso histórico de 1960.”

Logo depois temos um gráfico de colunas com alguns problemas. Veja o original abaixo e meus comentários na sequência.

1. Eixo de valores (vertical)

O primeiro e principal problema é o eixo não começar em zero. Quando isto acontece, as colunas passam a ter tamanhos desproporcionais para seus valores. Veja que a coluna de 2012 parece menos da metade da de 2001, quando na verdade o valor é coisa de 15% menor.

Veja apenas as colunas isoladas:

 

Viu? Nosso cérebro vai insistir em nos dizer que a coluna da direita é BEM MENOR do que a da esquerda. Mas não é.

Isto acontece porque a memória para imagens tem um “caminho” diferente. Não lemos imagens, nós a vemos. Por isso, sua interpretação é mais rápida do que um texto, ela é mais direta (por isso é melhor gráficos a tabelas nos dashboards).

E não temos controle sobre isto. Você vai ver a coluna, teu cérebro vai te dizer que ela é BEM menor e só depois de uns milionésimos de segundos você vai ler o valor e pensar “tem algo estranho, deixa eu ver de novo”. Daí vai olhar para a imagem, o cérebro vai ver algo BEM MENOR, e tudo começa de novo.

É claro que isto não acontece em segundo, senão todos ficaríamos loucos, mas acontece.

E quando acontece, você:

  1. Perde tempo porque vai precisar reprocessar o que “não viu”.
  2. Vê algo que não está lá – e corre o risco de decidir errado.

E que tal conviver com a possibilidade de em um dia qualquer, quem for tomar uma decisão, tomá-la errada porque leu algo que não estava lá?  Você correria este risco?

Devemos então assegurar que TODO MUNDO que olhe para a informação olhe a mesma coisa, que seus cérebros, ao olharem a imagem, façam uma correspondência exata com a informação.

Senão vira ilusão de ótica…

2. Chart Junk

Outro problema no gráfico é o chart junk. Já falei sobre isto aqui.

O que achei:

  • linhas de grade com a mesma espessura das linhas do eixo;
  • possui rótulos de valor;
  • título que não explica nada e
  • cor primária.

Não precisamos de tudo isto, porque o texto em si explica todos os detalhes. A regra básica de um gráfico é: se você demora mais para decodificar um gráfico do que ao ler o texto, então faça apenas o texto.

3. Cadê a mensagem?

O gráfico é para dar uma visão geral da informação, é para a relevância.

E qual a relevância: “o índice está caindo e atingiu o menor patamar desde 1960”. Então nosso gráfico só precisa mostrar isto.

Se tiver mais coisas para mostrar, serão outros gráficos. Uma mensagem por gráfico (mesmo porque, dependendo da mensagem o gráfico pode ser diferente).

Este é um dos maiores erros quando se faz gráficos: eles têm diversas mensagens. Ao invés de um gráfico para cada mensagem as pessoas fazem um gráfico com 2, 3, 5 mensagens diferentes.

Daí fica difícil ler…

4. Colunas

Até podemos usar um gráfico de colunas para análise temporal, mas um gráfico de linhas nos dá a percepção de tendência melhor do que o de colunas.

Nossa Proposta

O gráfico abaixo mostra uma proposta para a mesma informação.

 

Note que, trabalhando com o eixo em zero, a queda acontece, mas não naquela velocidade que o gráfico de colunas fazia supor. O efeito emocional foi embora. Ficou apenas a informação técnica.

Gráfico de Pirâmide

Não posso deixar de comentar a respeito dos diversos gráficos de pirâmide que aparecem no relatório.

Entendo que, apesar dos dados se referirem à pirâmide populacional, a visualização fica confusa por 2 motivos:

  1. Não se faz gráfico 3d em ambiente 2d. Isto acarreta sérios problemas de perspectiva
  2. O gráfico de pirâmide induz o leitor a achar que a informação é a ÁREA da pirâmide, e não apenas a sua altura (explico mais aqui)  . Veja o exemplo retirado do documento (página 14)

Olha a quantidade de chart junk:

  1. Rótulos mostrando os valores (gráfico é visualização GRÁFICA –se o número é importante, faça uma tabela)
  2. Cadê o eixo? O eixo começa em zero?
  3. Para que as linhas de grade, se não tem eixo?
  4. Usa 2 cores primárias
  5. 3D
  6. O que o vermelho significa?? Acho que são as classes AB
  7. O que o gráfico pretende mostrar?
  8. Para que mostrar valores me milhões, o que interessa é a grandeza, não o valor exato. Se é para mostrar o valor exato, que se faça uma tabela

Talvez uma interpretação para o gráfico seja o de mostrar o crescimento de pessoas na classe C e a redução das classes DE. Se for isto, poderíamos fazer algo assim:

 

 

(postagem publicada originalmente no blog da Viewsion e agora movido para cá)

Viewsion

 

 

 

 

Fabio Vianna
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